federação nacional de compras para executivos
-já moldei madeira pra muita casa. já matei muita sede matinal (acompanhada de tostas mistas). já presenciei muitos xeque-mates, reuniões particulares e choques na mesa de bilhar.

eu mal havia chegado e tive a sorte de pegar a terceira hora, mas não sei dizer bem qual das quatro figuras é que me dirigia a palavra.
    -foram incontáveis as revoluções, ainda que acompanhadas do melhor e pior da burguesia portuense.
primeiro, 
o betão armado. 
depois, 
a produção em massa.
em seguida,
a moda acessível
e, por fim,
a tentativa de baratear o custo de bens culturais pros trabalhadores...
...vendendo pra empresas!
-como é que vives entre tantas contradições?

eu pergunto, já sabendo que a contradição talvez seja o core da curiosidade epistemológica e é o que, poeticamente, nos mantém andantes.

-cada rosto me vê de um jeito, um ângulo e um recorte temporal de cada vez, mesmo estando continuamente presente.​​​​​​​
eu sento ao café da fnac, que, afinal, não se trata mais só de compras para executivos. 
há um tabuleiro de xadrez, há também tostas. 
a mesa é nova, mas é de madeira. 
me visto em fast-fashion.
    -não é a mesma coisa- ele me diz.
    -digamos que faço aqui qualquer releitura rápida -falo já em bons tons de risada.
    -é engraçada você, né... mas se...-silêncio.
[o relógio
p a r a   e
r e c o l h e m  -  s e
os quatro ]
    -se ainda podes me identificar, mesmo sabendo que por dentro estamos todos transformados, quer dizer que a identidade -e a estabilidade que a ideia de identificação traz- funcionou.
        -seguimos funcionais, então, até a próxima revolução.
depois percebi que seria ilógico dentro da temporalidade achar que era um dos quatro a falar comigo. eles chegaram lá muito depois. 
a crise identitária é o hype do século.