vou fazer migalhas
de todos esses escombros.
se amedrontam as minhas garras,
espera até chegar nos meus dentes,
na raiz de cada osso.
 
o choro fresco não limpa
o sangue quente no meu olho
e os restos latentes
do desmonte deste torso,
as mãos, as dobras, meus ombros
apesar dos cortes, dos tremores,
do suor e dos estrondos.
 
das ruínas que deixaram
fazendo peso no meu corpo
pra cada um desses canalhas
vou fazer virar migalha
cada parte desse escombro.
 
e o retalho eu rasgo até virar fio.
desfaço e talho cada laço
deixo em sobras nada mais
que um ponto só sem nó algum
 
e o pranto morno que cai sanguíneo
faz cimento fresco da migalha seca que ficou
assentam os dentes que bem afio
com palavras ao baixo tom
e assopro às correntes de vento:
 
"os sussurros também se ouvem,
é terno o som das migalhas
a caírem todas ao chão"